quarta-feira, 29 de junho de 2016

                         ela com ela


Elas nem haviam se encontrado, quando choravam em seus quartos. Nem sabiam, que naquele mesmo dia, suas vidas mudariam completamente e de uma vez por todas. Porque quando duas pessoas que se necessitam, enfim, se encontram, tudo muda! Com elas não poderia ser diferente. Naquele dia, o pai de Natasha havia morrido em um acidente trágico e o patrão de Carolina também. Sim, era a mesma pessoa. No mórbido velório, parentes choravam inconsolados. A loja de artigos de caça e pesca não teria mais a mesma imponência sem aquele homem de conhecimento apurado. Natasha queria pular no pescoço gélido do pai e dizer tudo que havia travado em seu peito, pelo jeito que herdara do tal... mas a única coisa que conseguiu fazer, foi sair correndo dali e sentar embaixo de uma árvore próxima ao local para chorar. Perto dali, Carolina fumava um cigarro. Ouviu o choro desesperado de Natasha e resolveu se aproximar. Nada falou, mas a fumaça do cigarro fez com que Natasha levantasse a cabeça. Entre o clarão do céu não conseguia definir ao certo o rosto feminino que lhe trazia o que precisava no momento: o precioso calmante invocador da lenta morte... um cigarro. Pediu um à moça, que sentou ao seu lado e lamentou à morte de Nilson, seu patrão. Natasha olhou para ela com espanto, mas nada comentou a respeito de seu pai. Continuou fumando em silêncio. Carol não conseguiu tirar seus olhos da moça, sentiu imediatamente uma empatia profunda. Quem seria aquela garota branca com cabelos tão negros? Tão triste e tão bela - pensou. Em um determinado momento, o cigarro de Natasha acabou. Não contente, dessa vez, ela olha nos olhos de Carolina e pede outro, mas não se contém em um choro agonizante de tristeza. Carolina abraça a garota e a conforta com o máximo de si. Então lê no pescoço de Natasha, Nilson e Lara. Logo relacionou ao nome de seu patrão e esposa. Mais intensamente ela oferece seu afeto a Natasha e, mais que isso... Natasha aperta Carol contra si e com força. Com ânsia. Esse dia foi triste, foi inesquecível e as duas nunca mais foram as mesmas. Durante a noite toda, Carolina ficou com Natasha debaixo daquela árvore. Elas cantaram, conversaram, se emocionaram e se beijaram... Esse beijo foi um momento em que marcou a morte e o nascimento. A morte de um amor eterno e o nascimento de outro. As duas perceberam que perderam juntas: uma o emprego, outra o pai. Entretanto, ganharam um grande amor. Embaixo daquela árvore, um cigarro, assassino silencioso, marcou o nascimento de um romance que hoje dá espaço a um lar cheio de sintonia. Elas não demoraram muito tempo para perceberem que conseguiriam juntas gerir os negócios do pai e patrão, pois uma tinha a posse, outra o conhecimento. Não demoraram muito para perceber que estariam para sempre juntas. Não demoraram para entender, que a vida continua e que o amor sempre foi o culpado por sua união.